Hoje escrevo de um ponto de vista diferente. Totalmente inédito.
Aproprio-me de todas as características de uma criança que vive o seu
sonho. Hoje, escrevo regressado do Estádio do Dragão pela primeira vez
na minha vida e com um sonho realizado. Finalmente em casa!
Viajar para o Porto era uma aventura e entrar no Dragão nada mais
seria do que ouro sobre azul. Ao fundo da imensa escadaria, o mais belo
estádio do país, lá estava, à minha espera. Era a minha primeira vez na
minha ‘casa’. Nervoso, inspirei fundo, controlei toda a ansiedade e dei o
primeiro passo. Não queria voltar atrás. Subi cada degrau com tanta
vontade quanto possível para me sentar naquela cadeira azul e ver o meu
Porto jogar. Para ver o meu Futebol Clube do Porto apresentar-se aos
adeptos com o Saint Etienne. O resultado, 0-0, deixa a desejar – mas foi
o que menos interessou.
Afirmo, com toda a razão que me compete e possa ou não ser dada, que
não há melhor palco do que este para se gritar Porto, respirar Porto,
viver Porto. Durante cerca de três horas, o relvado encheu-se de
estrelas para deliciar os quase 50.000 espectadores presentes.
Dragão. Seguindo a tradição, foi ele, fiel ícone chinês, o primeiro
protagonista do dia, com Julen Lopetegui a fazer as honras de espada na
mão e a compor um dueto praticamente perfeito. Seguiu-se um hastear de
bandeiras de proporções épicas e os primeiros grandes aplausos, com a
equipa a chegar literalmente a reboque num veículo potente, fazendo jus
ao espírito de guerreiros sempre preparados (o tal epíteto que a nova
marca de equipamentos, Warrior, associou a esta equipa).
Num jogo de apresentação, já se sabe, a equipa roda entre si até
todos (ou quase) os elementos pisarem o relvado. Na primeira parte, um
equipamento; na segunda, o alternativo. Mas não foi apenas a isto que se
resumiu o encontro: o Futebol Clube do Porto deu indícios de magia e
deixou promessas de uma boa época. Não, não foi o jogo com mais
oportunidades de golo; assim como não foi o mais dominado – até porque
Fabiano foi o guarda-redes que mais esteve em ação. Mas foi um encontro
perante cinquenta milhares de adeptos com fome de golo, protagonizado
por uma equipa nova, jovem e em evolução. Foi, em suma, a festa azul e
branca.
Pecou apenas pela falta de golos, mas, no final, o recinto fez
esquecer o resultado e põe água na boca daqueles que por ali passarão ao
longo das próximas semanas. Despeço-me feliz como não havia imaginado.
Não quero largar a cadeira azul. Não lhe quero virar as costas. Quero
ficar sentado a contemplar o relvado que agora cheira novamente à água
que o trata. Quero ficar.
É um até já, Dragão. Um até já emocionante. Que comece a época!
A Figura
O Dragão. O estádio, as cores, a organização, os
participantes, os futebolistas, os adeptos. Num jogo de apresentação, o
tempo ê distribuído por todos aqueles cuja candidatura a interveniente
foi aceite e tudo o resto ganha uma outra força. Os 47.000 espectadores
presentes e a enorme festa proporcionada pelo Futebol Clube do Porto.
No relvado propriamente, Oliver Torres. Como dizem, “chegou,
adaptou e encaixou”. O jovem reforço está no Porto para brilhar e se
dúvidas houvessem ficaram esclarecidas no seu primeiro jogo perante os
agora seus adeptos, onde se assumiu como a principal figura ao
acrescentar dinâmica a todo o meio campo ofensivo com passes rasgados de
uma lateral à outra e da parte recuada do terreno ao último terço, onde
mostra grande à-vontade.
O Fora-de-jogo
Insatisfação. Tomamos consciência da dimensão e das
exigências de um clube quando, num jogo (amigável, claro) de
apresentação aos adeptos, se ouvem assobios – que servem ainda para nós
nos apercebermos de quão a leste estão muitos dos adeptos. Ser exigente é
bom, sim. Querer ganhar também. Mas no devido espaço e lugar. O Futebol
Clube do Porto está em reconstrução, mostra sinais disso e promete
melhorar. Hoje era dia de celebrar a festa que é o futebol.
Nota: este texto foi publicado n'O Dragãozinho a 17 de abril de 2015, tendo a sua data sido alterada para a da original publicação em Bola na Rede (onde durante meses partilhei os meus pensamentos azuis e brancos) para que melhor se encaixe no contexto temporal.
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