Entrar no campeonato a vencer e no topo

Estádio do Bonfim, 18 de agosto de 2013. Numa tarde ensolarada, as camionetas aproximavam-se do maior estádio da cidade de Setúbal. As ruas enchiam-se cada vez mais de adeptos com camisolas azuis e brancas, laranjas, amarelas. Era difícil encontrar-se um adepto do Vitória no caminho para o estádio, onde, mais uma vez, predominavam as cores do Futebol Clube do Porto.

O campeonato começava aqui para os tricampeões nacionais, que depois de vencerem a supertaça procuravam arrancar da melhor forma possível na liga e num dia em que a massa associativa correspondia ao momento, esgotando o topo sul e contribuindo para um belo ambiente na primeira de muitas jornadas do campeonato português.

Entrar no campeonato a vencer e no topo

Cheguei a Setúbal entre as 18 e as 18h30. Entusiasmado com o começo de mais uma época e por poder ver o meu Porto ao vivo uma vez mais (afinal, são poucas as vezes que a equipa se desloca aos arredores de Lisboa e não é fácil viajar mais longe), fiquei cada vez mais ansioso pelo começo do encontro à medida que o relógio avançava. Já no estádio, os primeiros cânticos surgiram muito antes do apito inicial, tudo porque a muitos, muitos quilómetros de distância, o Marítimo vencia em casa, num palco de grande (e irónico) destaque na época passada, um dos principais candidatos ao título.

Voltando ao jogo, tínhamos pela frente o Vitória Futebol Clube. Não é tradição arrancarmos o campeonato de forma tranquila (na época passada perdemos inclusive pontos), mas éramos claramente favoritos e não passava pela cabeça de ninguém desperdiçar esta oportunidade 'dupla'. Na fase de aquecimento notaram-se algumas mudanças em relação à equipa de Vítor Pereira e deu para fazer as contas ao onze, que, à excepção de um ou outro plantel, seria o que inicialmente entrou em campo para ultimar a sua preparação.

O começo foi bom, convenceu, e rapidamente surgiu a ideia de que o golo apareceria com normalidade e nos primeiros minutos do encontro. No entanto, nada disto aconteceu, e, ao estilo do também meu Liverpool, os ataques foram feitos uns atrás dos outros mas sem nenhum efeito prático. 'Sem frutos', como diz o povo. Utilizando outro ditado, 'quem não marca sofre' e não fugimos à regra. As tentativas continuavam a ser feitas, mas no topo sul (onde se encontravam milhares de adeptos portistas vindos de todo o país, que enchiam a bancada literalmente até às escadas - já lá vamos) ninguém parecia convencido. Os jogadores aparentavam algum nervosismo, muito possivelmente por terem tido conhecimento de outros resultados, e nada saía como era suposto.

A insatisfação, mas, sobretudo, a surpresa era notória na cara de cada adepto portista. Um por um, todos esperávamos sair para o intervalo a vencer, com mais ou menos dificuldades mas esperávamos. As críticas, a maioria justa, diga-se, começavam a ser feitas de forma natural, tal era a apatia que se verificava em cada jogador nos últimos minutos do primeiro tempo. A segunda parte foi diferente, não em tudo o que se podia mas os três golos (e o alívio) serviram para fazer esquecer tudo o que de mau se viu.

Josué encantou com a marcação da grande penalidade, a jogada com Jackson para o terceiro e último golo e muitos outros pormenores no meio-campo, sendo mesmo um dos candidatos a homem do jogo; Quintero, esse, provou mais uma vez estar próximo de assegurar um lugar no onze inicial, por toda a sua qualidade e capacidade de fazer a diferença, como se pode verificar no momento do segundo tento - que, apesar de ter sido apontado na primeira jornada, ficará lembrado como um dos melhores de todo o campeonato. Foram poucas as figuras individuais do encontro, pelo menos do lado portista, que ainda assim cumpriu o seu objectivo, comum ao de todos os adeptos presentes: vencer.

Se o começo foi bom, o final também o foi e o Futebol Clube do Porto sai de Setúbal com um triunfo, o primeiro de muitos, e três golos marcados contra um sofrido, dando um sempre difícil primeiro passo rumo ao Tetracampeonato. Quanto a mim, saio mais uma vez satisfeito do estádio e ainda sem alguma vez ter visto o meu Porto perder.

* Por fim, e apesar de não ser do meu agrado aqui deixar este parágrafo, umas palavras às infraestruturas de um clube da primeira divisão portuguesa, um clube profissional, e a todo o pós-jogo: quando são vendidos mais bilhetes do que lugares disponíveis (e tal foi verificado, pois era visível que dezenas de adeptos foram forçados a assistir ao encontro nas escadas, antes de ser aberta, de um dos lados, a porta de uma outra bancada para melhorar ligeiramente o trânsito nesse lado), algo está mal. Quando não é feita uma distinção entre as claques oficiais - reconhecidas pelo clube - e os restantes adeptos - que são então forçados a permanecer no estádio e a abandoná-lo pelo mesmo caminho (entenda-se, linha lateral, com uma forte barreira a proteger a relva) - algo está mal. A Liga/Federação Portuguesa de Futebol não pode ficar parada e é urgente que seja feita uma reavaliação a todos os estádios situados em território nacional que se candidatem a receber encontros oficiais, profissionais, pois, e por muito carinho que tenha pela cidade de Setúbal e pelo Vitória FC, o Estádio do Bonfim não é capaz de acolher com condições um jogo de futebol da Liga Zon Sagres.

Publicado ainda n'O Olho Azul e Branco.

0 comentários: